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Localização: Lisboa, Portugal

É o que se diz e mais alguma coisa.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Introduçao


INTRODUÇÃO


Luís é fadista. O rabo de cavalo é uma forma de ostentar a vaidade bairrística. Atrás dele está sempre o Bruno, seu afilhado no fado. Luís Guimarães, 24 anos, e Bruno Igrejas, 17, são o fado. São verdade. A prova de que os bairros de Lisboa continuam o grande laboratório de vivências vadias com uma guitarra sempre à mão. Que os restaurantes típicos dão corpo a um culto que não é falso, apenas encontra sustento para fazer o que não quer deixar de fazer: cantar o fado.

Ao compilar estes 20 temas, Mané do Café prova que a canção típica de Lisboa faz-se em Alfama, na Mouraria, da Graça ao Castelo... E evita que alguém pense que canta realmente o fado sem ir até lá. Sem cheirar as vielas e ouvir o som das suas gentes. As tascas são o conservatório e o taberneiro o maestro de ocasião. Um simples desviar de olhar pode significar o fracasso, mas se servir mais um tinto, então está afinado.

Mané chegou a Portugal em 1990. Na bagagem trazia os pincéis e a tinta-café. Ficou preso à Mouraria e atracado em Alfama. De turista passou rapidamente a cultor das tradições mais íntimas e saudavelmente boémias de Lisboa. O bar que desenhou transformou-se no principal difusor da guitarra ébria de uma velha cidade sem horas para retomar a casa. “Tejo bar” é um pequeno centro cultural-popular onde a única regra é não ligar aparelhagens. Pode parecer simples, mas tem o extraordinário efeito de transformar cada noite numa inevitável composição. Seja pela embriaguez dos fadistas que fecham os restaurantes turísticos e depois se extravasam no prazer das cordas entre amigos, seja pela influência dos muitos estudantes estrangeiros que acrescentam, ou traduzem, nos fados.

“Lisboa – Fados e Vielas” é um convite a todos para se aventurarem nas artes fadísticas, ao mesmo tempo que guia os visitantes por uma Lisboa de bigodes latinos, gatos independentes e cheiros intensos. E a brancura dos lençóis ao vento encandeia mesmo com o dia posto. As obras foram recolhidas nas ruas – também mestriamente coloridas a café -, de onde o fado nunca saiu, nem nunca sairá.

Um destes dias, quando, sentado numa mesa do “Tejo bar”, rascunhava uma folha de papel com ideias para este escrito, Luís perguntou-me: “Vai sair uma letra para um fado?” As vozes de Lisboa vão sempre cantá-lo...

Bruno Martins
Lisboa, 2002.